- Não quero mais ser adolescente, cansei! Quero ter minha própria vida, meu próprio dinheiro, minha própria casa...
Acordo às seis da manhã com o barulho do despertador, vou até o banheiro, me olho no espelho, não reconheço aquela pessoa:
- Quem é essa baleia me olhando?
Saio do quarto, vou para o corredor, vejo três portas, entro na primeira, um quarto totalmentebagunçado e uma jovem dormindo. Provavelmente a minha filha. Tenho que acordá-la, acho que ela tem que ir para a escola.
Mas como ela se chama? Arrisco um nome:
- Sofia, acorda!
- Ai mãe, só mais cinco minutinhos...
Já vi esse filme antes...
Entro na segunda porta, vejo outra menina dormindo – Meu Deus, mas eu queria ter filhos homens!-
Essa eu não precisei acordar, ela acordou sozinha e me deu bom-dia.
Fui até a terceira porta – Caramba,eu tenho três filhos! Como assim? - Entro em um quartinho lindo, todo azul e na cama dorme um menininho tão fofinho. Finalmente, o filho homem que eu tanto queria. Leio um nome em sua camisa, chama-se Davi.
Descemos para tomar café da manhã, começo a fazer uma gororoba qualquer para as crianças, sou uma negação na cozinha.
Sofia me olha estranho e diz:
- Mãe, deixa que a empregada faz.
Eba! Eu tenho empregada, pelo menos isso.
O telefone toca, é o meu advogado. Pois é, descubro que meu marido me trocou por uma menina que tem idade para ser filha dele e me deve meses de pensão.
O carteiro deixa a correspondência, vou pegar. Contas e mais contas, e sou eu é quem pago!
Vejo um notebook em cima da mesa, e é meu.
Começo a mexer nos arquivos que estão nele. Matérias, textos...Opa! Trabalho em um jornal.
Ao lado do notebook, está um livro com meu nome na capa. Consegui publicar meu livro!
Vou me atrasar, tenho que levar as crianças para a escola. Entramos no carro - é, eu tenho um carro, e um carrão por sinal.- Estou com muito calor, ligo o ar, mas continuo com calor. - Será que estou na menopausa? - Sete anos de azar hein.
Deixo as crianças na frente de uma escola tradicional, que me custa os olhos da cara. Em pensar que eu estudei em escola pública.
Vou para a redação do jornal que eu trabalho. Quando chego lá, surpresa!
É o meu aniversário, 10/08/2037. Todos estão lá, inclusive as crianças, me enganaram direitinho. De repente, o pequeno Davi surge com um bolo na mão e fala para mim:
- Mamãe, faz um pedido.
E eu fecho bem os meus olhos, esqueço de tudo a minha volta e penso com todas as minhas forças:
Quero ter 17 anos de novo!
Quero meu corpinho sarado de volta!
Quero poder menstruar de novo!
Quero voltar para a casa dos meus pais!
Eu imploro!
Abro os olhos, vejo várias pessoas ao meu redor, e um bolo na minha frente com uma vela de 17 anos. E minha mãe me diz:
- Marina, faz um pedido.
Pauta para o Blorkutando: “E Se Fosse Verdade”.